quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Há dias assim...

Acordamos de manhã e acreditamos todos os dias, que mesmo não dominando o acaso, a jornada ha-de decorrer com desvios mínimos ao planeado. 
O dia da nossa viagem a Barcelona foi um desses dias em que plano algum (ou qualquer vislumbre dele) se manifestou como previsto.

Este ano a nossa semana de férias, teve um pequeno contratempo, lidamos com ele da melhor forma que conseguimos, ansiando por a compensar com este saltinho ao país vizinho.

Desde que saímos de casa, até que embarcamos, foi uma verdadeira loucura.

O check-in online declinado no dia anterior, marca o inicio da saga. Segue-se depois uma correria absolutamente impossível de descrever até ao balcão de check-in, os acontecimentos até lá chegar já eram claramente indicadores de energias menos boas naquele dia, mas nunca pensamos que pudessem piorar de forma crescente...

A voz da funcionária informa-nos então que o voo está overbooked. O Carlos percebeu de imediato a dimensão da coisa, eu demorei mais algum tempo...

Overbooked??? Mas isso existe??? Vendem-se mesmo lugares fictícios, que afinal não existem!
Mas as pessoas não têm planos feitos para as suas viagens? Alojamentos marcados? Voos com escalas? Acontecimentos importantes e irrepetíveis onde ir, que podem ficar completamente arruinados?

Não são avarias técnicas ou cancelamentos que ponham em risco a vida das pessoas, são puras estratégias das operadoras aéreas.
Mas quem é que autorizou esta "pouca vergonha"?

A solução dada foi esperar na porta de embarque. Segundo a funcionária, havia desistências "com muita frequência"...


Não houve qualquer desistência.
Ficamos nós, e mais 3 pessoas à porta nesse tal de, "overbooking".

Voltar a sair da zona de embarque, reclamar no balcão de atendimento ao cliente, gerir as birras do Salvador (que andava desde manhãzinha em modo logístico e já lhe pesava o sono)voltar a entrar para recuperar a mala de porão, voltar a sair para um novo check-in, voltar a passar pela segurança e esperar 6 horas pelo próximo voo...


Mas a história não acaba aqui.
Passados 15 mins da hora prevista para o novo embarque, ninguém estava lá para o fazer ou dar  qualquer explicação...

Uma hora depois, eventualmente são distribuídos vouchers para jantar...

Aguardar. Olhos constantemente postos nos ecrãs.
Exaustão - o Salvador continuava sem dormir, não tinha apetite e estávamos já sem ideias para o manter entretido - encontrou alguma tranquilidade no parque infantil.

Informação de nova porta às 23h40...


As luzes vão-se apagando aqui e ali, as lojas vão-se fechando, de repente conhecemos o Aeroporto da Portela em quase perfeito silêncio - de certa forma sabia bem - ajudava a diminuir a pressão e o stress que habitavam o dia inteiro dentro de nós.

Então os ecrãs, disparam a informação de que o voo tinha sido cancelado.


Cancelado??
A sério?????

Parecia-me demasiado absurdo e ridículo tudo isto. Duas situações caricatas no mesmo dia, com as mesmas pessoas, com a mesma companhia aérea?

O que veio depois, foi ainda pior do que o que eu já tinha visto durante todo o dia.
Mais de 200 pessoas a correr e a atropelar-se escadas fora até ao balcão de apoio ao cliente, todos precisavam de soluções para os seus problemas, que eram mais importantes que os dos seus semelhantes.

Não invejei o lugar das duas funcionarias...



Havia um passageiro com mobilidade reduzida e mais dois casais com crianças exaustas.
Todos tínhamos prioridade por direito, mas estávamos na fila.
Uma equipa de back-up, apressou-se a vir ajudar aquelas duas pobres criaturas. Filtraram os prioritários e mandaram-nos passar à frente.

O Salvador chorava, esperneava, esfregava os olhos, atirava-se para trás... Desconcertava-me pensar na confusão e cansaço que iriam naquela cabeçinha...


Testemunhei depois uma amostra daquilo que é o desespero humano puro e duro.
Não se tratava de fome nem de sede mas havia gente por todo o lado a reclamar das nossas prioridades, grupos de pessoas que se queriam organizar para exigir uma série de coisas, outras que faziam de tudo para passar à frente dos outros, circulavam noticias contraditórias por todo o lado...

A funcionária quando nos viu de novo ali nem queria acreditar! Mandou-nos passar imediatamente.

O casal que se encontrava à nossa frente, com o qual estávamos em contacto, e a quem eu mesma fui informar que o voo tinha sido cancelado, grita que também eles têm uma criança!

Sair dali era a única coisa que eu desejava...

Dormimos 5 horas mal dormidas.

Chegamos ao nosso destino 32 horas depois.

O céu estava limpo, a temperatura ideal, respiramos fundo e atiramos mais uma vez para trás das costas o peso de tudo aquilo que não controlamos - afinal não somos refugiados de guerra, não passamos fome, nem sede, não atravessamos nenhum deserto a pé -  estamos juntos com saúde e paz, existem compensações que se podem pedir nestas circunstâncias. Relativizar, colocar os acontecimentos em perspectiva, aceitar, ser resiliente e sobretudo... Manter o bom senso.

P.S. - Desculpem a qualidade das fotos... foram mesmo as possíveis.

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